Entrevista: Betão

A WTV Brasil dá continuidade a série de entrevistas com profissionais do basquete brasileiro. Nesta semana, conversamos com Betão, ex-jogador e atual treinador das categorias de base do Palmeiras.

Há 35 anos no basquete, Hebert Coimbra batalha para passar aos seus atletas toda a sua experiência vivida dentro das quadras. Com passagens por Ulbra, Corinthians/RS, Rio/Telemar, Palmeiras, entre outros, Betão agora busca seu espaço como treinador. Eleito em 2012 o melhor técnico do Estado de São Paulo pela categoria sub-15 dirigindo a Metodista de São Bernardo, Betão comanda as categorias sub-14 e sub-17 do Verdão.

Entre outros assuntos, Betão falou sobre a estrutura do basquete brasileiro e suas ideias para o crescimento da modalidade no Brasil.

Confira a entrevista:

WTV: Quando você decidiu ser jogador de basquete?

Betão: O basquete entrou na minha vida quando eu tinha seis anos de idade. A irmã da Telma (treinadora do Pinheiros) casou com o meu tio, e a Telma, que na época jogava na seleção brasileira, 28062013687me convidou para ir a uma escolinha em São Bernardo do Campo, e a partir dali eu comecei a participar até os nove anos, quando eu fui federado. Aí a paixão veio com tudo e até hoje, com 42 anos, eu nunca saí das quadras.

WTV: Nos clubes que jogou, onde você encontrou melhor estrutura para trabalhar?

Betão: Eu joguei aqui no Palmeiras no primeiro ano da Parmalat, aqui tem uma estrutura muito boa, a torcida é apaixonada pelo clube. O Corinthians, em Santa Cruz do Sul, na época do Ary Vidal, foi um time que marcou muito, tinha uma ótima estrutura. Em Limeira, apesar de algumas limitações, a estrutura era boa… Eu joguei em Itanhaém, lá foi muito legal, tinha uma estrutura legal. No Rio/Telemar, o Oscar (Schmidt), apesar de não ter uma estrutura, deu condições para todos, foi algo especial e diferente, cada um tinha algumas responsabilidades, foi uma experiência divertida. E na Ulbra, de Canoas, foi o lugar que eu trabalhei com mais estrutura.

WTV: Como foi a experiência de trabalhar com o Oscar dirigente? Como era a relação dele com os atletas?

Betão: O Oscar foi um excelente manager. Ele ditou as regras de como seria o time e a partir daí tudo fluiu muito bem. Ele estava em quase todos os jogos, incentivava todos os jogadores, sempre dando muita moral para a equipe. Quem tinha aquela imagem do Oscar jogador, que parecia que tudo era para ele, foi completamente diferente, ele conseguiu deixar o grupo unido. Quando teve um pequeno deslize no grupo, ele fez uma reunião, botou pingo nos is, e o time seguiu até conseguir o título. Como manager, ele foi excelente.

WTV: Como surgiu a ideia de se tornar treinador?

Betão: Começou em 95, quando eu estava no Náutico de Itanhaém, que eu recebi um convite para dar treinos de basquete em uma escola particular da cidade, e eu aceitei. Era um desafio para mim, eu ainda era jogador, tinha 25 anos, mas eu achei que isso podia agregar muito na minha vida. Ali eu me apaixonei, dei aula para garotos de 9, 10, 11, 12, 13, 14 anos, e para meninas também, foi uma experiência ótima. A partir daí, em alguns lugares que eu passei como atleta,  quando tinha algum projeto social ou mesmo do clube, eu procurava participar nessa parte de pedagogia, de ajudar, e isso veio crescendo dentro de mim. Quando eu terminei a minha carreira como atleta, pelo cansaço de ter passado 32 anos dentro de uma quadra, eu cheguei a jurar que não queria mais essa vida (risos). Mas passou um ano e meio e eu não aguentei, comecei a estudar, e aí veio a primeira experiência como treinador na Copa Norte, dirigindo o São José de Macapá, onde fomos campeões em 2011. Aí tivemos a vaga para a Supercopa Brasil, onde ficamos em quarto lugar, perdemos na prorrogação de três pontos do Tijuca e por muito pouco não conseguimos classificar um time do norte para o NBB. Seria uma honra tremenda para toda aquela região que ama o basquete. Após isso eu recebi o convite do Vanderlei (Mazzuchini), da CBB, que é colaborador da Metodista, de São Bernardo, para ser treinador do sub-15 da equipe, onde fui eleito o melhor treinador da categoria no Campeonato Paulista. Foi um trabalho excelente, que me deixou motivado, onde eu percebi que é isso mesmo que eu quero para a minha vida. Aí o Palmeiras viu o meu trabalho, gostou e me convidou para ser técnico das categorias de base.

WTV: Falando sobre o Palmeiras, como você o atual momento do basquete no clube?

Betão: Eu acredito que é um momento especial, muito pela recuperação que teve no segundo turno do último NBB. Aquilo cativou a torcida, porque o torcedor palmeirense está um pouco carente por causa do momento do futebol. O basquete ficou um pouco desacreditado pelo primeiro turno, por tudo que envolveu, pela chegada de um treinador estrangeiro que não falava a língua, que não conhecia os jogadores do plantel. Mas o time se encaixou, se entrosou, conseguiu uma melhora física e conseguiu uma recuperação no segundo turno que foi extraordinária, o ginásio ficava lotado todos os jogos. Agora temos uma expectativa muito grande para o Campeonato Paulista e para o NBB esse ano. Eu acho que com a experiência do Ênio Vecchi (novo treinador), que já treinou várias equipes, seleção brasileira masculina e feminina, eu acho que o grupo do Palmeiras agora tem tudo para chegar entre os quatro primeiros do campeonato paulista e fazer uma excelente campanha no NBB.

WTV: Na época do locaute da NBA, cogitou-se a vinda do Kobe Bryant para o basquete brasileiro. Você postou no seu blog recentemente alguns motivos que fariam o Kobe desistir de jogar aqui. Gostaria que você falasse um pouco da estrutura do basquete brasileiro, o que você acha que tem que melhorar e o que você acha que está dando certo no momento?

Betão: A criação da Liga foi primordial para a mudança de mentalidade. Eu acredito que quanto mais ex-atletas começarem a participar efetivamente, seja como preparador físico, técnico, diretores, a tendência é um crescimento real, porque eles sabem exatamente o que precisa, quais são os verdadeiros dramas. A estrutura, a mentalidade quando vai se montar uma equipe ou se vai construir um ginásio, o piso tem que ser flutuante, isso é 50% menos risco de lesão para o atleta. Não dá mais para colocar um cimento e uma tábua em cima para um atleta de alto nível jogar basquete. Tem que se saber exatamente como é a vida do atleta, o que ele precisa, a casa, alimentação, nutricionista, psicólogo, enfim, são vários itens. Tudo isso tem um custo elevado, só que se houver um trabalho de mídia e marketing bem feitos, eu acho que vem o patrocínio. O jogador de basquete brasileiro é muito mal explorado.28062013689 Os jogadores de basquete poderiam estar em comerciais, fazendo campanha na mídia, participando em novelas, em seriados. Por que não? Eu acho que pode sim, ainda mais que temos jogadores entrando na NBA, jogadores que representam uma nação como o Flamengo, que parou o Rio de Janeiro nas finais do NBB. Por que não? O esporte do Brasil é o futebol? É, mas existem outras modalidades que tem um retorno muito grande, os jovens amam o basquete, e falta o pessoal que administra abrir a mente e ter esse filão. O esporte de alto rendimento não pode ficar dependendo do Governo. Nós precisamos da iniciativa privada. A única coisa que eu acho que os governantes precisam entender é que um incentivo fiscal para uma empresa grande, independente do valor,  revertendo para um projeto de um clube que vai pegar do adulto até crianças de 10, 11 anos, vai ser maravilhoso para uma comunidade, para uma cidade, para um estado, para um país. Então, talvez as pessoas que estejam lá em cima mexendo com o esporte não tenham o entendimento certo.

WTV: Como você vê a organização do NBB, o número de times, a possível criação da segunda divisão, como você vê o NBB hoje?

Betão: Olha, se for criada a segunda divisão vai ser excelente. Mais jogadores empregados, a estrutura melhorando, clubes que estavam sem uma perspectiva após os campeonatos estaduais poderiam dar continuidade, os atletas continuariam empregados, técnicos empregados, fisioterapeutas, preparadores físicos, os clubes continuariam se movendo, chamando a comunidade, isso seria excelente para o nível do crescimento do basquete interno e para a massificação também. E eu acho que o NBB está em um caminho de crescimento muito bom. Na minha opinião, precisamos de TV aberta passando os jogos. Não adianta me convencer que um jogo por semana em uma TV fechada vai massificar o basquete. É TV aberta, não importa o canal.

WTV: Você acha que tem que ser mais bem distribuído o sistema de transmissão dos jogos?

Betão: Com certeza. Isso seria excelente. Imagina em uma segunda-feira ter o jogo em uma Record,  quinta-feira na Band e de sexta e domingo continuar no Sportv. Por que não? Eu não vejo motivo do Sportv perder a audiência, eu vejo uma ampliação na visibilidade, inclusive a internet poderia transmitir jogos, seria maravilhoso. As ideias não podem ser pequenas, a mente tem que ser grande, todo mundo tem que pensar grande, não só uma pessoa.

WTV: você concorda com a realização de uma final em jogo único?

Betão: Eu acho que nenhum jogador, ex-jogador, técnico, ninguém concorda com isso. O entendimento é que foi uma maneira de tentar buscar um público maior, mas pelo que eu estou sabendo no ano que vem não vai ser mais assim, vai voltar o sistema de playoff, que é muito mais legal. a gente viu o playoff da NBA, que foi no sétimo jogo, ninguém sabia quem ia ser o campeão, foi maravilhoso. Então, nós precisamos do NBB indo para o sétimo jogo na final, tendo oito mil pessoas, vinte mil pessoas, quinze mil pessoas em todos os jogos. É aí que vem a massificação.

WTV: Para finalizar, o que você pode falar para quem está começando a carreira no esporte?

Betão: Sem treino e foco, ninguém chega no objetivo final. Então, se você quer realmente virar um atleta, ter sucesso, você tem que ralar muito, você tem que ter foco, ter um objetivo e buscar esse objetivo. Dedicação, amor, respeito pelo que você faz, respeito pelas pessoas mais experientes, isso é fundamental para algum garoto e para alguma menina conseguir chegar lá. O funil é muito estreito, só passa um por vez. Quando o atleta chegar ao profissional, vai contar muito o que ele fez na base, a dedicação que teve, e no adulto o empenho tem que ser muito maior. Uma coisa é alcançar, outra coisa é se manter.

Veja a Entrevista Completa:

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