Exclusivo: Cadum conta detalhes do fim da equipe de basquete de Suzano

Quando se fala em Ricardo Cardoso Guimarães, ou simplesmente Cadum, não há como não se lembrar de uma das melhores gerações do basquete brasileiro. Ao lado de Oscar, Marcel e cia, Cadum conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de 1987, vencendo o favorito Estados Unidos na final. Além da vitória heroica, o ex-armador esteve presente em quatro olimpíadas e conquistou diversos títulos como jogador.

Porém, em contraste às inúmeras conquistas ao longo da carreira, Cadum passou por verdadeiros apuros na última temporada de basquete. Como técnico da equipe de Suzano, último colocado no NBB 5, ele viu o time, que passava por uma crise financeira, fechar as portas tão logo acabou o campeonato nacional.

O projeto da equipe da Grande São Paulo era uma parceria de um instituto de basquete do ex-jogador Ratto com a Prefeitura Municipal de Suzano. Por falta de patrocínios maiores, o órgão público era o principal financiador do time. O planejamento era de longo prazo, o que fez com que Cadum se mudasse com a família toda para Suzano. Porém, o final da temporada acabou sendo como um balde de água fria para o ex-armador.

23072013718Com contrato assinado com a Prefeitura de Suzano até o final de 2012 e com acordo para a renovação por mais um, a equipe de basquete sofreu um duro golpe em meio ao primeiro turno do NBB. Durante o segundo semestre do ano passado, as pesquisas eleitorais indicavam vitória da oposição nas eleições municipais da cidade. Por conta disso, o Governo deixou de cumprir seus compromissos, deixando atletas e comissão técnica em uma situação muito delicada.

“Nós ficamos com um déficit de três meses, para salário, despesas e viagem do time durante o NBB. Aí trocou o Governo. O Governo novo que entrou, a Prefeitura atual de Suzano, entendeu a situação e ajudou o time, mesmo sem ter nenhuma obrigação. Pagou a 10ª parcela que o Governo anterior não pagou, fez uma audiência pública rápida na Prefeitura para arrumar uma verba para o basquete e com isso conseguimos terminar o campeonato. Mas terminamos no limite”.

Sem verba, contas a pagar e salários atrasados, o dia a dia dos profissionais do time de Suzano foram se tornando cada vez mais complicados. Se não bastasse isso, a equipe se viu obrigada a mandar seus últimos oito jogos na vizinha Mogi das Cruzes, pois a Prefeitura não fez as reformas exigidas pela Liga Nacional de Basquete no Ginásio Paulo Portella.

“O treinamento acaba, você começa a pensar em como é que você vai jantar, como é que você vai para casa, não tem dinheiro para colocar gasolina… No transporte para Mogi não tínhamos mais ônibus no final da temporada, a gente ia de carro, colocava gasolina do bolso, alguns não podiam colocar, juntava um carro aqui, outro ali. Nas viagens começamos a reduzir o plantel, viajávamos em nove jogadores e eu, o assistente não ia, eu que cuidava de tudo para diminuir custos. Quando fomos jogar em Brasília, viajamos de manhã e voltamos depois do jogo à tarde. Foi um negócio totalmente difícil de controlar e complicado, porque o jogador chegava para treinar de manhã e falava que não tinha tomado café porque não tinha dinheiro para comprar o leite. De sete meses que a gente passou no NBB, cinco foi em situação muito ruim, a gente não sabia o que ia acontecer no dia seguinte, não sabia se ia ter treino à tarde, de não ter roupa para treinar. Foi terrível”.

Reprodução/NBB
Reprodução/NBB

Além dos problemas extra-quadra, Suzano sofreu um duro golpe dentro dela. No meio do campeonato, os alas Paulo e Fusco e o pivô Gaspar, titulares e jogadores mais experientes do time, se transferiram para outros times, deixando a equipe basicamente com jogadores jovens e inexperientes.

“O time sentiu demais. Eram três jogadores importantíssimos e que tinham um pouquinho mais de rodagem que os outros. O time sentiu muito, caiu demais e eu tive que controlar o desânimo dos outros jogadores que não tinham tido a oportunidade de sair, pois tinham que continuar brigando. A gente acordava e no dia seguinte tinha um jogo contra Flamengo, contra Bauru, contra Franca, só jogo difícil, viagem para o Ceará, viagem para Joinville, um negócio complicado, e tudo isso sem perspectiva de saber como ia ser o dia seguinte. A gente ficava às vezes olhando para a porta do ginásio esperando o Ratto entrar e falar: “Olha, moçada, acabou, não conseguimos, o time encerrou”. Não foi muito fácil de controlar o grupo, o time sentiu muito”.

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Apesar dos inúmeros problemas e os resultados adversos, Cadum faz questão de elogiar os jogadores e acredita que a equipe tinha condições de conseguir uma colocação melhor no campeonato.

“Dos jogadores eu não tenho nada a reclamar, muito pelo contrário. Eles entenderam a situação. Nós conseguimos nos entender muito bem nesse sentido de tentar deixar todos os problemas fora da quadra. Claro que em alguns momentos não era muito fácil, mas quando a gente entrava para treinar e jogar, a gente conseguia esquecer e se empenhava ao máximo. A gente fez dois jogos duríssimos contra Brasília, jogamos de igual para igual e só perdemos no final. Perdemos para Bauru, que foi o terceiro colocado, apenas nos 20 segundos finais, levamos o jogo na frente o tempo inteiro. Ganhamos de Franca em Mogi, e Franca com um time fortíssimo. Então, tivemos bons momentos, fomos no nosso limite. Eu acho que duas coisas nos prejudicaram: o fato da gente ter mandado alguns jogos fora de casa (em Mogi) e a saída dos três jogadores (Fusco, Paulo e Gaspar). Com os três e mais o mando em Suzano eu acho que a gente teria uma colocação bem melhor no campeonato”.

Dono de uma agência de turismo e ainda morando em Suzano, Cadum está afastado do basquete desde o fim da participação da equipe no NBB, em abril, algo que, segundo ele, não o preocupa no momento.

“Eu fiquei em Ribeirão Preto durante três anos (como assistente de Lula Ferreira), depois fui para Uberlândia. Quando eu saí de Uberlândia, eu não tive mais convite nenhum e fiquei sem mercado. Eu já tinha a minha agência de turismo, continuei trabalhando nela e tinha descartado totalmente o basquete da minha profissão como técnico, até que o Ratto me ligou de uma hora para outra falando desse projeto aqui em Suzano, me convidando para assumir. Eu gostei do projeto e vim, mas da mesma forma que aconteceu em Uberlândia, em 2006, está acontecendo agora com a saída de Suzano. Não tenho nenhuma perspectiva para continuar a ser técnico e agora estou na fase que talvez não dê certo, mas não estou muito preocupado, segue a vida, vou continuar aqui na minha agência”, concluiu.