*Me lembro como se fosse ontem da estreia de Alexandre Pato pelo Corinthians. Foi contra o Oeste, no Campeonato Paulista deste ano.
Marcado por estrear sempre com gol pelos clubes, o atacante era esperado ansiosamente pelos 36.480 presentes no Pacaembu, no dia 3 de fevereiro, uma bela tarde ensolarada de domingo.
Aos 20 minutos da etapa final, a fiel fazia coro pedindo a entrada do atacante. E Tite atendeu, já que o time naquela altura goleava por 4 a 0. Após conversar com o treinador na lateral do campo, aos 25 minutos do segundo tempo, Pato entrou em campo com a camisa do Corinthians pela primeira vez.
Bastou três minutos para que a estrela brilhasse e Pato estufasse as redes do Pacaembu.
A explosão da torcida foi imediata. Ele pulou a placa de publicidade e, batendo no peito, foi comemorar junto aos companheiros e torcedores que acompanhavam a partida na arquibancada do Tobogã.
Todos ainda estavam com um pé atrás, afinal, sua carreira sempre foi marcada por contusões e incertezas. No Corinthians, a chance de recomeçar. O investimento foi de R$ 40 milhões, transação mais cara do Corinthians, superando Tevez, Nilmar e Mascherano.
Um grande atacante para um grande clube. Tinha tudo para dar certo…
Até o momento, são 52 jogos com 16 gols marcados. Em seu primeiro ano no clube, conquistou o Campeonato Paulista e a Recopa Sul-Americana. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, das 31 partidas disputadas até aqui na Série A, o jogador foi titular em 15 delas. E foram nesses jogos que o Corinthians conquistou sete das nove vitórias que tem na competição. Empatou quatro vezes e perdeu outras quatro.
O Corinthians com Pato titular disputou 45 pontos e conquistou 25. Teve um aproveitamento de 55,5%, número que cai para 33,3% quando o jogador começa no banco.
Na reserva, o atacante viu seu time ganhar apenas uma vez (empatou seis e perdeu duas). Dos 27 pontos possíveis, conseguiu apenas nove.
O aproveitamento também é menor quando ele nem está relacionado para o jogo. Por lesão ou servindo à seleção, Pato não esteve em sete partidas, das quais o Corinthians venceu só uma (empatou quatro e perdeu duas). Com o jogador fora, o desempenho do time também é de 33,3%.
O casamento conturbado com a atriz Sthefany Brito e as várias contusões fez de Pato uma pessoa badalada na mídia e que pouco faz dentro de campo. Infelizmente, não vingou como todos esperavam quando surgiu no Internacional em 2006, aos 17 anos.
Foi para o Milan. No primeiro ano na Itália estrelou o calendário da Dolce & Gabbana. Fez diversos trabalhos como modelo e, mais recentemente, uma participação na novela global Amor à Vida. O rostinho bonito lhe rendeu/rende milhões, é bem verdade.
É por essas e outras que Pato não se identifica com a torcida corintiana. Embora os números mostrem que os resultados do time com o atacante em campo são melhores, é o que ele deixa de fazer e sua instabilidade que o faz ser questionado a todo momento.
Além do comportamento badalado extracampo, é aquele tipo de jogador que tira o pé em dividida. Dá um ‘trotezinho’ aqui, outro ali, mas que está longe de voltar para marcar como Jorge Henrique fazia. Tite mesmo já cobrou maior comprometimento do jogador nesse quesito. Gosta de bola no pé e muitas vezes é individualista demais.
Vamos jogar com raça e com o coração (…), canta a fiel. É isso, Alexandre. Falta raça. E talvez, quem sabe, falte também amor pela profissão.
Pouco importa aos corintianos que o time ganhe, desde que não falte vontade.
É sabido que o problema da queda de rendimento do Corinthians não se dá só por causa do atacante. Grandes jogadores que foram muito bem ano passado não correspondem, estão cansados e velhos. Mas isso pode ter uma explicação.
Há algum tempo foi levantada a hipótese que os demais jogadores do clube achavam injusto o salário de Pato ser superior ao deles. O Corinthians informa, oficialmente, que o salário de Pato está no teto de outros jogadores-chave, como Emerson Sheik e Danilo – R$ 400 mil ao mês. O atacante, contudo, lucraria/lucra com ações publicitárias.
O investimento pode até dar retorno no marketing, mas, futebolisticamente, não. O casamento, assim como quando foi com Sthefany, não vem dando certo e talvez seja a hora de pedir o divórcio.
O pênalti perdido contra o Grêmio foi a saideira. Vale lembrar também o gol perdido contra o Boca Juniors na Libertadores que, se convertido, poderia ter dado novo gás ao Corinthians na partida e, quem sabe, a possibilidade de seguir em frente na competição. Acertos em momentos cruciais faz de um mal jogador um ídolo; os erros fazem dos bons alguém nem tão bom assim. É o futebol.
Mas o peso naquela ocasião não foi tão grande como o de agora, já que a eliminação do Timão ficou marcada pela arbitragem de Carlos Amarilla.
Se pronunciar, pedindo desculpas através de uma nota publicada pela sua assessoria não era o ideal. ‘Quer dar a cara à tapa’, convoque uma coletiva. No papel é fácil e até mais conveniente para você, não é, Pato? A torcida gosta de transparência.
Você se pronunciar diante de câmeras não apagaria o erro, mas talvez amenizasse um pouco a revolta de torcedores que comemoraram tanto seu primeiro gol, lá no comecinho do ano, contra o Oeste.
Há a possibilidade do Corinthians negociá-lo no início do ano que vem. Totteham e Arsenal estão interessados. A questão envole mais que ‘futebol jogado’. Envolve, agora, a imagem Corinthians, que ficou ‘abalada’ pelo erro cometido contra o Grêmio, não só aqui no Brasil como na imprensa internacional.
Pode ir, Pato. A favela não é o seu lugar. O Parque São Jorge não se tornou sua casa. A fiel está, mais do que com raiva, chateada. Eles apostavam em você e você os decepcionou. A ‘maravilhosa torcida’ que você tanto fala, não sente o carinho que você diz sentir por ela.
Eu não sei você, mas eu não gostaria de ficar em um lugar que eu sei que não sou bem-quista. Procure um novo lugar para recomeçar. No Corinthians, você já se afundou.
* Texto escrito por Jaiane Valentim, colaboradora da WTV Brasil